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Introdução e glossário

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O que é a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG)?

A Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) refere-se à prática amplamente adotada por profissionais de saúde que atendem a comunidade trans, bem como por indivíduos da própria comunidade, com o objetivo de possibilitar que pessoas trans alcancem alterações nas características usualmente atribuídas a estereótipos sociais diferentes dos designados a si ao nascimento. Isso ocorre por meio do uso de medicamentos.

A THAG diferencia-se da Terapia Hormonal Regular (THR), comumente oferecida a pessoas cisgênero, tanto em objetivos quanto em metodologias. Algumas das técnicas empregadas na THAG podem ser parcial ou totalmente incompatíveis com aquelas utilizadas na THR.

Neste guia, optamos por separar os conceitos de THAG e THR para destacar suas diferenças de forma clara. Além disso, buscamos introduzir o tema para quem está tendo seu primeiro contato com a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero, seja para aplicação em si própri(o/a/e), ou para ajudar outras pessoas interessadas.

Segue a versão revisada e formatada do glossário conforme suas instruções:


Glossário

A seguir, apresentamos uma série de termos técnicos frequentemente encontrados na literatura especializada sobre a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG). Esses termos são essenciais para compreender os efeitos, impactos, riscos e processos envolvidos na terapia. Antes de aprofundarmos o tema, é importante delimitar alguns conceitos recorrentes, tanto neste artigo quanto em outros textos sobre o assunto:

  • Terapia Hormonal (TH): Refere-se à terapia de reposição hormonal oferecida a pessoas cisgênero, popularmente conhecida como hormonização ou simplesmente TH, sem que seja feita uma distinção entre esta e a terapia voltada para pessoas trans.
  • Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG): Terapia de reposição hormonal oferecida a pessoas trans, também conhecida popularmente como hormonização ou TH, sem a devida distinção em relação àquela voltada a pessoas cisgênero.
  • Fármacos: Substâncias químicas principais de um medicamento, responsáveis pelos seus efeitos terapêuticos. Também conhecidos como “princípios ativos”, os fármacos determinam o nome do medicamento na sua versão genérica.
  • Medicamentos: Produtos compostos por um ou mais fármacos, resultando no item final disponibilizado em farmácias para uso.
  • Hormônios: Moléculas produzidas em glândulas do corpo, capazes de exercer efeitos específicos sobre o funcionamento do organismo.
  • Esteroides: Subtipos de hormônios fundamentais para manter o equilíbrio das funções básicas do corpo, sendo também responsáveis pela expressão de características sexuais secundárias, como o crescimento de pelos faciais e o desenvolvimento de mamas.
  • Equilíbrio Hemodinâmico: Refere-se à estabilidade entre os fatores que regulam a entrada e a saída de fluidos no organismo.
  • Biodisponibilidade: Quantidade de uma substância que é efetivamente absorvida e aproveitada pelo organismo.
  • Meia Vida: Tempo necessário para que a quantidade de uma substância no organismo seja reduzida à metade.
  • Nome Comercial: Nome atribuído ao medicamento de referência pelo laboratório que o desenvolveu.
  • Genérico: Medicamento que contém o mesmo princípio ativo, dose, forma farmacêutica, posologia e indicação do medicamento de referência, mas é produzido por outros laboratórios. É sempre nomeado de acordo com seus princípios ativos.
  • Referência: Medicamento desenvolvido originalmente por um laboratório e que serve como base para a produção de medicamentos genéricos e similares. Geralmente, possui um nome comercial e tende a ser mais caro.
  • Similares: Medicamentos que compartilham o mesmo princípio ativo do medicamento de referência, mas que podem variar em aspectos como dose, forma farmacêutica, posologia e indicação.
  • Forma Farmacêutica: Refere-se à forma física do medicamento, que pode ser sólida (como comprimidos), líquida (soluções e xaropes), aerosol ou destinada a diferentes meios de aplicação ou consumo.
  • Efeito Adverso: Efeitos negativos que podem surgir como resultado do uso de um medicamento.
  • Interação Medicamentosa: Alteração nos efeitos de um fármaco devido à presença de outro fármaco, alimento, bebida ou substância química no organismo.
  • Metabolismo: Conjunto de processos químicos realizados pelo corpo humano para utilizar, transformar e excretar substâncias.
  • Pessoas Trans: Indivíduos cuja identidade de gênero não corresponde àquela designada ao nascimento.
  • Cisgênero: Indivíduos que se identificam com o gênero que lhes foi designado ao nascimento.
  • Transmasculina: Pessoa trans cuja identidade é baseada em estereótipos sociais atribuídos ao masculino.
  • Transfeminina: Pessoa trans cuja identidade é baseada em estereótipos sociais atribuídos ao feminino.
  • Incongruência de Gênero: Termo clínico que descreve o desconforto relacionado às características físicas, psíquicas ou à leitura social de uma pessoa com base em suas características sexuais, em contraste com sua identidade de gênero. Esse desconforto é frequentemente experienciado por pessoas trans.
  • Sistema Único de Saúde (SUS): Sistema público de saúde brasileiro, que oferece cobertura universal e gratuita a todas as pessoas no país, independentemente de seu status social.
  • Saúde Suplementar: Termo que engloba todos os serviços de saúde fora do SUS, como hospitais e clínicas particulares, profissionais de home care, entre outros.
  • CID-11: Documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estabelece padrões diagnósticos e diretrizes de cuidado para doenças, transtornos e sintomas em escala global.
  • OMS: Sigla para Organização Mundial da Saúde, uma entidade internacional composta por profissionais de saúde e dedicada à criação de padrões e diretrizes para facilitar o acesso e a organização dos serviços de saúde no mundo.
  • Não-Binarie: Pessoa trans cuja identidade não se aplica necessariamente a um ou mais estereótipos de gênero, mas que difere do gênero atribuído ao nascimento.

Como surgiu a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG)?

Os métodos contemporâneos de Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) têm suas origens creditadas ao Institut für Sexualwissenschaft (Instituto de Ciências Sexuais), fundado pelo médico e sexólogo alemão Magnus Hirschfeld. Entre 1919 e 1930, o instituto foi pioneiro no uso de medicamentos para adequar características físicas ao gênero vivenciado por pacientes, aliviando o sofrimento causado pela incongruência de gênero.

Posteriormente, em 1979, foi criado o WPATH (World Professional Association for Transgender Health), documento elaborado pela Sociedade Internacional de Endocrinologia e Metabologia. O WPATH visava estabelecer práticas seguras e eficazes, padronizar a terminologia e orientar o tratamento clínico de pessoas trans, que na época eram erroneamente compreendidas como portadoras de transtornos.

Esse entendimento evoluiu ao longo das décadas. Atualmente, o CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, 11ª edição) reconhece que as identidades trans não configuram um transtorno mental. Essa mudança é refletida nas edições mais recentes do WPATH, que orientam a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) como o tratamento ideal para aliviar o sofrimento associado à incongruência de gênero. A THAG busca ajustar algumas características físicas ao gênero expressado por pessoas trans, promovendo maior bem-estar físico e psicológico.


Como funciona a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG)?

A Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) atua modificando a quantidade, os efeitos e o equilíbrio entre os hormônios esteroides no corpo humano. O objetivo é inibir a expressão de características indesejadas pela pessoa trans e estimular a manifestação das características desejadas.

Esse processo pode ser realizado de diversas formas, sendo a mais comum a substituição cruzada entre estradiol e testosterona por meio de medicamentos hormonais. Essa abordagem pode ser acompanhada ou não pelo uso de medicamentos que contenham fármacos capazes de bloquear os efeitos de um dos hormônios, promovendo, assim, os resultados desejados. Esse método permite alcançar alterações significativas, mesmo com uma menor biodisponibilidade dos hormônios administrados.


Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) em pessoas transmasculinas

Em pessoas transmasculinas, a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) consiste na administração de testosterona idêntica à encontrada naturalmente no organismo humano. Essa terapia impede a função feminizante do estradiol e promove efeitos masculinizantes, ao aproximar os níveis hormonais daqueles usualmente encontrados em pessoas designadas como homens cisgênero ao nascimento.

Além disso, podem ser utilizados medicamentos com efeitos similares, como certos anabolizantes, que aumentam a produção de testosterona endógena. Esses métodos, quando bem administrados, eventualmente alcançam os mesmos efeitos desejados.


Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) em pessoas transfemininas

Em pessoas transfemininas, a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) é realizada por meio do bloqueio da testosterona e do aumento dos níveis de estradiol disponíveis no organismo, até que sejam alcançados níveis semelhantes aos encontrados em pessoas designadas como mulheres cisgênero ao nascimento. Esse equilíbrio hormonal promove a feminização das características sexuais secundárias e ocasiona mudanças fisiológicas na pessoa.

Geralmente, esse processo é realizado com o uso de dois medicamentos: um que bloqueia a ação da testosterona e outro cujo princípio ativo é o estradiol em uma forma idêntica à encontrada naturalmente no corpo. Há também alternativas, como medicamentos que combinam ambas as funções em um único composto, oferecendo uma abordagem integrada.


Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) em pessoas não-bináries

Em pessoas não-bináries, a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) busca ser modulada de forma personalizada e seletiva, focando em características específicas que a pessoa deseja alterar. Dessa forma, pode tanto seguir protocolos semelhantes aos das terapias descritas para pessoas transmasculinas ou transfemininas, como ser realizada em microdoses ou com o objetivo de modificar algumas características sem alterar outras.

Por exemplo, pode-se promover a feminilização sem o desenvolvimento de tecido mamário ou outras características associadas. Por sua natureza individualizada, a THAG em pessoas não-bináries geralmente é ajustada conforme as necessidades e objetivos únicos de cada pessoa.


Quais os benefícios da Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG)?

A Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) oferece uma série de benefícios amplamente reconhecidos, destacando-se os seguintes:

  • Melhoria da saúde mental: Reduz sintomas de depressão, ansiedade e incongruência de gênero, promovendo maior bem-estar psicológico e emocional.
  • Maior aceitabilidade social: As mudanças corporais possibilitadas pela THAG facilitam a inserção social e reduzem o risco de discriminação, ao aumentar a conformidade visual com as expectativas sociais associadas ao gênero expressado.
  • Melhoria na autoimagem e autoconfiança: A terapia aumenta a satisfação com a aparência física e reforça a autoestima, ao alinhar a imagem corporal com a identidade de gênero.
  • Mudanças permanentes na estrutura corporal alinhadas ao gênero desejado: Incluem redução ou aumento de pelos, crescimento muscular ou mamário, alterações no odor corporal e no peso, entre outras mudanças.

Quais os riscos da Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG)?

A Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG), como qualquer tratamento medicamentoso, apresenta riscos inerentes. Por isso, é essencial estar atento(a/e) aos seguintes aspectos:

  • Problemas cardiovasculares: O uso inadequado dos medicamentos da THAG pode alterar o equilíbrio hemodinâmico, aumentando os riscos de condições como varizes e, em casos extremos, tromboses. Isso ocorre devido ao impacto que o aumento ou diminuição dos hormônios sexuais exerce sobre o equilíbrio circulatório.
  • Problemas hormonais: O uso excessivo de determinados hormônios pode causar efeitos adversos, especialmente em pessoas com maior sensibilidade, como acne ou lactação excessiva.
  • Maior suscetibilidade a algumas doenças influenciadas por hormônios:
    • Em pessoas transmasculinas, há um aumento no risco de calvície (alopecia androgenética).
    • Em pessoas transfemininas, o risco de câncer de mama torna-se semelhante ao de pessoas designadas como mulheres cisgênero de idade similar.
  • Riscos relacionados ao uso inadequado de medicamentos: O uso incorreto de medicamentos pode levar a problemas no metabolismo, resultando no acúmulo de substâncias que sobrecarregam rins e fígado. Por isso, é crucial respeitar as doses e os intervalos entre elas. Também é necessário prestar atenção aos efeitos adversos descritos nas bulas e evitar interações medicamentosas, não misturando medicamentos sem acompanhamento profissional.

Como começar a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG)?

No Brasil, a prescrição e oferta da Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THAG) é regulamentada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), estando disponível gratuitamente para a população por meio de serviços públicos de saúde. Além disso, também é possível acessar a THAG por meio da saúde suplementar (clínicas e hospitais privados), onde o tratamento é disponibilizado sob demanda.

Como começar pela Sáude Suplementar:

 Ao optar pela sáude suplementar, há uma gama de opções disponiveis para realizar a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THag), mas os profissionais adequados são os especialistas na saúde hormonal, sexual e metabolica, ou seja, os endocrinologistas, ginecologistas ou urologistas com conhecimento cientifico adequado.

 Costumava ser requisitado um diagnostico pelo CID-10 de “transsexualismo” mas com a atualização do manual que excluiu o termo e despatologizou as identidades trans em a sua 11º edição o CID-11, esse requisito já não é mais nescessário, refletido na resolução nº 2.265/2019 do Conselho Federal de Medicina, permitindo a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THag) por requisição simples para maiores de 18 anos, ou mediante permissão dos pais para menores com idade superior a 16 anos completos.

Como começar pelo Sistema Único de Saúde (SUS):

 O Sistema único de Sáude (SUS) instituiu o processo transexualizador em 2008, por meio das portarias nº 457 e 1.707, em 2013, foram acrescidas ao tratamento pessoas transmasculinas e não binárias, atualmente o as diretrizes para o tratamento se encontram mais atualizadas sobre a da Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THag) embora ainda um pouco dissidentes dos padrões internacionais, o SUS fornece acompanhamento multidisciplinar e hormonios gratuitamente, porém com menor individualização do tratamento, para iniciar a Terapia Hormonal Afirmativa de Gênero (THag) pelo SUS, é muito simples, somente se dirija a Unidade Básica de Saúde mais proxima, e solicite pelo Processo Transexualizador, a hormonização deve ser iniciada logo após os exames iniciais.

Mas infelizmente em localizações mais ao interior do país o acesso ainda pode ser dificultado por profissionais pouco atualizados ou preconceituosos, em casos onde isto ocorra, ainda há a opção de recorrer a unidades de referencia que costumam estar presentes em capitais, na forma de grandes hospitais ou centros especializados, que podem ter sua disponibilidade verificada pelo disque sáude, acionado ao telefonar para o número 136 que tem seu funcionamento de segunda a sexta das 8h as 20h e aos sábados das 8h as 18h.

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